sábado, 2 de maio de 2009

O respeitável cego

Este conto não é de autoria minha, mas fui autorizado a difundi-lo neste blog. Desde já muito obrigado por poder divulgar um elemento tão rico como este conto budista. Mesmo que não seja ligado ao budismo, gostaria que observasse a moral e a intenção do texto; como outro qualquer.

O Respeitável Cego

Naquela hora Buda estava fazendo pregação para muitas pessoas. Anaritsu estava logo ao lado de Buda ouvindo a sua pregação. Só que por estar de olhos fechados as pessoas começaram a comentar entre si.

-Hei pessoal, Anaritsu dorme durante a pregação! Como pode desrespeitar Buda de tal forma!
Buda, com seus poderes sensoriais, percebeu o que as pessoas sentiam. Também sabia que Anaritsu não dormia. Mesmo assim repreendeu-o.

- Anaritsu, agora é hora de ouvir os ensinamentos, como pode dormir?

Buda, além de saber que Anaritsu não dormia, sabia que apenas fechava os olhos para se concentrar. Prova disso é que Anaritsu gravava em sua memória todos os ensinamentos de Buda. Todavia, com o intuito de esclarecer a situação Buda chamou-lhe a atenção. Ao receber a orientação Anaritsu assustou-se, pois não pensava que sua forma de concentrar estava sendo vista como (dormir) pelas pessoas. ]
Anaritsu tentou compreender o sentimento de Buda e disse para SI mesmo:

- Buda deve estar esperando que eu diga na frente de todos que não estava dormindo, apenas estava com os olhos fechados para concentrar.
E era isso mesmo. Mas, Anaritsu pensou um pouco mais profundamente.

-Independente de ser verdade, se disser que fechava os olhos para me concentrar melhor, e assim me defender da acusação, estarei legalizando esta forma para todos os outros. Sendo assim, até mesmo quem realmente estiver dormindo passará desapercebido.
Depois de pensar assim Anaritsu respondeu a Buda.

-Perdoe-me Mestre. Doravante, aconteça o que acontecer, poderá meu corpo queimar que jamais fecharei os olhos. Baixou a cabeça como sinal de profundo respeito e fez penitência.
Anaritsu deste dia em diante nunca mais fechou os olhos, seja dia seja noite. Mesmo que as pessoas lhe pedissem para fechar, e descansar os olhos, Anaritsu não o fazia.
Buda preocupado com o estado de Anaritsu chamou o médico Guiba, na época um dos mais famosos da India e também seguidor de Burla. Guiba após analisar Anaritsu disse apenas:

-Se ele dormir um pouco ficará bem melhor. Anaritsu não acatou sua orientação e por fim perdeu a visão. Entretanto, pela determinação com a qual seguia os ensinamentos de Buda e viveu sua vida ascética, desenvolveu poderes divinos e graças a isso ainda podia ver as coisas.

Certo dia, Anaritsu quando quis costurar sua túnica de monge teve dificuldade em passar a linha na agulha, pois não usava seus poderes para si próprio.

-Por favor, alguém pode me passar a linha na agulha?
Em voz alta chamou alguém que pudesse lhe ajudar. Alguém se aproximou e disse:

- Eu o farei com o maior prazer.

Anaritsu pela voz logo percebeu que era Buda e disse:

- Pedi que alguém me fizesse isso para que esse alguém acumule a virtude do bem-fazer, mas não para alguém tão nobre quanto o Sr. Peço desculpas em pedir sem saber da vossa presença.

Buda respondeu:

- O que me faz um Buda é a grandeza desse sentimento de bem-fazer, que é dezenas de vezes maior que o de outras pessoas, por isso sou Buda. Portanto, dê-me essa linha!

As demais pessoas que se encontravam no recinto curvaram-se em sinal de respeito pela compaixão e nobreza de espírito de Buda.
Que Anaritsu perdeu a visão toda a Índia ficou sabendo, os ascetas de outras linhas religiosas tentaram se aproveitar disso dizendo:

-Anaritsu diz que quem pratica os ensinamentos de Buda não passa por sofrimento e tem vida tranqüila. Vamos lá caçoar dele. Foram até Anaritsu e lhe disseram:

-Não me diga que perdeu a visão e que sente prazer por isso?

Anaritsu respondeu:

- Vocês dizem que enxergam, entretanto se apegam no orgulho, em materiais sem ver no que eles se transformam no futuro.

A ignorância os fazem alegres com festas, se acharem melhores que as outras pessoas e que encontraram o caminho da vida. Não permite distinguirem sujo do limpo e o belo do horrível.
Se desejarem, posso ensinar a vocês, que dizem enxergar, mas que não vêem um palmo adiante do nariz. Ensinar-lhes-ei o caminho da verdade e como se vê e respeita-se o mundo e as pessoas.

Buda e as demais pessoas que assistiram este acontecimento disseram:

- É, Anaritsu realmente enxerga muito longe e melhor que qualquer um.

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